sexta-feira, 6 de maio de 2011

NA PONTA DA PENA DO CARCARÁ

ESSA SENHORA
Marcos Jardim


Vejam essa senhora ao nosso lado:
O que a fez um dia
Arrumar-se, toda faceira
Vestir-se de vaidade
Apaixonar-se e se entregar
E se despir ...

Sentir dores inimagináveis
Perder noites e dias em vigílias.

Quantas orações tecidas!
Quantas canções de ninar!

E diz a ciência:
Que não é mais que útero, ovários, trompas,
Varizes, seios ...

E ainda mais: potássio, cálcio, carbono ...
: pó.

Reparem nessa senhora:
Olhos de adivinho
Mãos de timoneiro
Braços de lavrador.

Onde procuramos o ouro, a prata, o diamante
Faz-se de veio, a mina.

Onde procuramos a água, o sal
Faz-se de poço, a fonte.

E, se um dia a trairmos e estraçalharmos sua alma
E, se na fuga não existirem mais caminhos
E, se a escuridão tomar conta de nós

Ela ainda estará à porta
Essa incansável senhora

A abrir-se

Coberta de luz.


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