sexta-feira, 24 de junho de 2011

ERA UMA VEZ NA TERRA DA CONCEIÇÃO

A ONÇA PINTADA
(Zé Caetano – o contador de histórias)
Marcos Jardim ___________________________________________________________________________________

A televisão chegou acabando com as “bolandeiras” noturnas.

Ali, avizinhança reunia-se para passar a limpo a vida preguiçosa .

Lembro-me de uma delas, em frente à residência de Adonias, no Alto da Usina.

Eu era fã das histórias contatadas por Zé Caetano. Admirava o “jeito desleixado” dele contar os causos.

Tem a história do caçador de onça pintada queele incrementou da seguinte forma:

“Quando eu morava no sul, o bicho que tinha mais no terreiro lá de casa era a onça-pintada.”

Zé Caetano olhava de lado. Fazia uma longa pausa, cuspia a gorda de fumo, e avaliava se a “audiência” era suficiente para que ele encompridasse mais o relato.

“Eu vivia da venda de couro da bicha. Naqueles tempos, couro de onça não tinha muito valor, mas era um serviço maneiro”.

“Aprendi a tirar o couro sem judiar muito da danada. Fazia o trabalho todo usando apenas um canivete.

Eu pegava a onça no descuido.

Era assim: eu provocava a onça com uma vara curta, e na hora que ela armava o bote, eu pulava na ligeireza e peava as duas patas dianteiras dela. Depois que ela cansava de estrebuchar, agarrava a pintada pelas orelhas e só soltava depois que tava com o couro inteiriço na mão”.

Zé Caetano fazia mais uma pausa... tirava um canivete do bolso da camisa, pegava um bocado de fumo no bolso da calça e cortava um pedaço.

Depois de colocar a “péia” na boca, continuava falando ao mesmo tempo em que guardava os apetrechos numa demora infinita.

“A bichana dava cada miau que fazia medo”.

Zé dava outra cuspida, se ajeitando no tamborete e completava:

“Quando terminava o serviço, soltava a onça que saia correndo em carne viva.

Dois ou três meses depois, ela voltava com uma pele nova que dava gosto!.”

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